sábado, 2 de maio de 2009

O ECO DO DIRETOR - ANDERSON FARIAS

Para minha agradável surpresa o documentário Eco do Sapucay está caminhando para se tornar o meu primeiro longa metragem e isso está acontecendo naturalmente graças a riqueza do material produzido. Foram 12 horas de imagens brutas, sendo 14 canções e pouco mais de uma dezena de entrevistas, para chegarmos a um filme que deve ter em torno de uma hora e dez minutos. Mas ainda é prematuro falarmos sobre a duração da obra. Filmes ficam prontos depois de terminados. Essa frase pode parecer engraçada e obvia, mas no caso do documentário ela é a mais pura verdade.

Documentários, em geral, não possuem roteiros, mas sim pesquisas que te apontam um norte. Há algo a ser dito, comprovado ou descoberto. É um mergulho no escuro onde tentamos minimizar ao máximo os riscos. Mas nada está garantido. Eduardo Coutinho, um dos grande documentaristas que temos, exercitou o fazer documental em seu filme “O Fim e o Princípio” onde partiu com uma equipe de cinema em busca de algo que nem ele sabia ao certo.

Para os documentaristas é preciso planejamento e muita sorte. Tivemos os dois. Há sempre um ponto de partida. Uma fagulha. Mas onde ela vai nos levar e o que será construído a partir disso reside no mágico que envolve o fazer cinematográfico. Mas nada foi fácil. Em cinema, aliás, nada é fácil. Ainda mais para quem produz independente. As produções ricas resolvem seus problemas comprando tudo ou mandando fazer. Para as pobres resta a superação, o que também é uma riqueza, afinal trabalho é dinheiro. Uma equipe motivada produz melhor do que uma equipe rica.

E trabalhamos muito. Foram cinco dias de 15 horas de trabalho em cada um. Há uma mística em cinema que diz respeito a equipe. Tenta-se no set fazer dar certo uma coisa que tem tudo para dar errado. Pode parecer exagero, mas faz-se filme correndo contra o tempo, contra as intempéries, contra o improvável. A equipe é fundamental, pois é o grupo que unido vai fazer com que os problemas sejam superados ou vai padecer diante deles. É uma guerra. Um trabalho de equipe onde cada um tem que fazer o seu da melhor forma possível.

Se por um lado não tivemos dinheiro de outro não podemos reclamar dos apoios. E foram muitos. A grande maioria através de dinheiro ou auxílios que se transportados para o dispendioso universo da produção cinematográfica se tornariam irrisórios. Mas para nós foram imprescindíveis.

Bom, depois e toda essa observação sobre produção vamos falar um pouco da visão do diretor. Eco é um filme limpo, onde basicamente as imagens e o conteúdo vão falar por si só. Não teremos grandes efeitos, movimentos mágicos ou técnicas surreais de linguagens revolucionárias. O filme se basta. Partimos de um grito para tentar mostrar um pouco do universo cultural do cone sul. Desvendar o quanto influenciamos e somos influenciados pelas mais diversas culturas. Tudo se move. E por isso mesmo o respeito às culturas dos povos, sejam eles quais forem, é salutar.

Eco do Sapucay foi rodado em alguns dos lugares mais belos, seja pela natureza ou pela cultura, do Rio Grande do Sul. A música é um dos pontos marcantes do filme e isso se justifica porque o Sapucay está ligado intimamente ao Chamamé, um ritmo oriundo de Corrientes. Tivemos a participação de mestres consagrados da musica regionalista como Luiz Carlos Borges, Valdomiro Maicá e Jorge Guedes. Mas preciso fazer dois registros dentre todas as gravações de musica que tivemos. O primeiro deles chama-se Karoso Zuetta, musico argentino de Missiones e pesquisador da cultura Mybiá-Guarani. Uma grata descoberta que entoou um canto indígena com sua bela voz nas Ruínas de San Ignácio. O outro ficou a cargo da talentosa dupla de irmãos Anahy e Caraí Guedes que juntos executaram a música Oração a Sepé Tiarajú, cantado em guarani. O cenário era o interior do que sobrou da igreja de São Miguel que tem em si pedras testemunhas dos 300 anos da historia de gloria e queda de toda uma nação. De arrepiar. Foi um momento mágico. Principalmente quando uma pomba com o alvoroço de suas asas rompeu a cena sobrevoando os acordes da oração como se fosse o próprio espírito de Sepé observando e abençoando tudo.

Não sei qual vai ser o resultado final do Eco do Sapucay. A expectativa só aumenta a medida que o trabalho avança. E há muito ainda pela frente. Como disse Alexandre Bragança, diretor de fotografia do filme, a diversão (as filmagens) acabou, agora começa o trabalho (edição). Mas seja lá qual for o resultado de tanto empenho, uma coisa é certa: fazê-lo já nos valeu.

Um comentário:

  1. Que lindas fotos!! Através delas pude imaginar a adrenalina da equipe!
    Tô curiosa para assistir!
    Sucesso com certeza!!
    Abraço
    Cíntia

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